Os especialistas da start up Artificial Intelligence in Medical Epidemiology (AIME, Inc), trazidos ao Rio de Janeiro pela parceria entre o Viva Rio e a Singularity University, visitaram nesta quinta-feira (22) a favela da Rocinha, em São Conrado, Rio de Janeiro. Os pesquisadores foram a campo conhecer a realidade desta que é a maior favela da América Latina, para estudar a possibilidade de utilizar tecnologias que usam inteligência artificial para prever surtos de doenças infecciosas na comunidade. Eles também acompanharam o trabalho desenvolvido pelos agentes de endemia da Prefeitura carioca, cruciais para a coleta de dados e produção de estatísticas sobre a doença na cidade.
Acompanhados pela coordenadora do convênio de parcerias da Singularity University, Erika Barraza; o médico epidemiologista Rhesi Daja, o engenheiro de computação Rainier Mallol e o cientista Ho Chiun Ching, também de computação, conversaram com a reportagem da Globonews sobre o trabalho que estão começando a desenvolver no Rio de Janeiro. Abaixo, os quatro na Clínica da Família Maria do Socorro.
Os cientistas acompanharam uma visita à casa de D. Inácia, um sobrado com uma pequena varanda cheia de plantas sobre um bar à beira da Estrada da Gávea, que estava na programação dos agentes de controle endêmico do município, que atuam de forma preventiva no combate a doenças como a dengue. Paraibana de Fagundes, desde os 20 anos na Rocinha, ela tem o hábito de armazenar água em dois galões grandes e um pequeno e o cuidado de tampá-los, para evitar a proliferação de mosquitos. “Fico até três dias sem água, por isso tenho de armazenar”, justificou.
Mesmo tampado, o galão maior tinha duas larvas, removidas pelos agentes, que recomendaram a ela que utilizasse a água para regar as plantas e limpar a casa e depois esfregasse o interior do compartimento, “porque os ovos grudam nas paredes e depois se reproduzem”. No dia seguinte eles voltarim à residência para verificar se foram tomadas as providências recomendadas. “Tive dengue há uns 10 anos, peguei numa obra na Barra da Tijuca”, contou D. Inácia, pronta para cumprir as recomendações dos agentes de saúde.
Os profissionais da AIME pareciam familiarizados com o cenário da favela, porque os bons resultados de 88% de acerto do método que criaram foram obtidos em dois distritos da Malásia, igualmente pobre e de clima tropical como o Brasil. O projeto criado pela start up tem a capacidade de prever onde ocorrerão novos focos com de um a três meses de antecedência, o que torna os métodos de combate – como o fumacê e o uso de mosquitos geneticamente modificados – mais eficazes e baratos, porque só precisam ser aplicados em territórios menores. Rainier Mallol está otimista. Ele e sua equipe já visitaram unidades de Saúde e Vigilância do município, bem como de Meteorologia e Defesa Civil. Na véspera, estiveram no Complexo do Alemão. “Acreditamos que nosso trabalho também poderia funcionar aqui”, avaliou.
O coordenador de Inovação do Viva Rio, Francisco Barreto, explicou à repórter da Globonews como funciona a parceria com a instituição, cuja ideia central é “aumentar o impacto das ações com tecnologia”. Localizada no Vale do Silício, na California, a Singularity University fica no parque da Nasa e tem o Google entre seus patrocinadores. “O Viva Rio opera com clínicas de saúde e queremos cada vez mais usar nossos dados de forma inteligente”, completou Francisco. Erika Barraza, da Singularity, se prontificou: “podemos ajudar a desenvolver novas tecnologias”.
Os especialistas estão recolhendo uma série de dados, que vão desde a quantidade de obras existentes na cidade, onde é comum o acúmulo de água parada, ao tipo de moradias e hábitos de comportamento. Essas informações serão processadas para gerar as previsões dos futuros focos de dengue na cidade.
(Texto e fotos: Celina Côrtes)